sábado, 26 de março de 2011

Protocolo de Jogos Teatrais

Diário de bordo de uma pseudo-atriz-jogadora em crise.
Dos diferentes significados da palavra jogar.

(sobre escada, vendas, fuxicos e nariz de palhaça. sobre Florela)

Jogo... Divertimento, exercício*. Mas exercício do que? Posso dizer que exercício é uma prática... Daí teríamos Práticas Teatrais...? Mas isso não resolveria a história do ‘aplicados’. Ah, deixa pra lá. Voltemos aos jogos. Jogo... Exercício ou passatempo entre duas ou mais pessoas das quais uma ganha, e a outra, ou as outras, perdem. Perder? Nananinanão. Nada disso. A gente não perde, a gente desaponta expectativas. Ignorem essa definição ai. Não... Mas posso concordar que o jogo acontece quando há mais de uma pessoa. Mas espera. Tinha aquele jogo da bola na parede que eu brincava sozinha em casa... E se eu for fazer um monólogo não tem jogo? O André lá com os objetos no protocolo dele, era jogo! Bom, então posso colocar ai o jogo com a platéia, com os objetos cênicos, com a iluminação e com a própria cena. Ou isso é relação e não jogo? Mas o jogo não se encontra na relação? Então no fim das contas vai dar no mesmo. Pausa. Respira, Letícia, pensa... 'Pode-se dizer que jogo é o que se faz, é o que acontece quando... Se joga'. (risos) Mas o que é jogar mesmo? Vamos lá. Jogar: Manejar com destreza. Essa eu vou cortar também. Afinal, se você não tem destreza não joga? Como assim? Porque o lugar do jogo é justamente o lugar de risco, onde não cabe a destreza posto que é imprevisível pra quem se encontra lá, você não sabe o que vai acontecer quando se coloca em jogo. Existem artifícios sim que você cria consciente e inconscientemente pra se sair bem no jogo, digamos que algumas cartas na manga. Mas nunca se sabe quando vai funcionar ou não... descartada! Jogar... Aventurar... Agora sim. Aventurar sim, me parece um correspondente à altura. O teatro em si é uma grande aventura. Jogar nada mais poderia ser então, do que se lançar dentro dela... Essa eu gostei, vai pro meu mural. Arremessar... Arremessar também não deixa de ser um pouco disso. Você lança, você dá, e nunca sabe o que vai voltar, como vai voltar e SE vai voltar.. O ioiô da Maria Bonita... O texto da Talita, você dá um estímulo e pá – pode sair qualquer coisa dali, você arremessa... Gostei também. Brincar... O ‘brincar’ me trás uma coisa da inocência, da criança mesmo, da espontaneidade, aquele momento quase mágico em que você esquece de tudo na sua vida e simplesmente... Brinca. Como os marinheiros da Europa-pá... E o ‘brincar’ pra mim ainda vai além, me trás aquele brilhinho no olho de quando a gente vê alguém realmente se divertindo no palco. Sem medo de ser feliz.... Coisa mais delícia! E por último e não menos importante... Dar-se ao jogo... E aqui trato de um ponto que pra mim é o mais difícil e mais fundamental no teatro e no jogo – a doação, a entrega, a oferenda. Aquilo de você não ter reservas, você se dá e pronto. Daí eu já lembro do clown do Narciso, você tem isso pra oferecer pro mundo então você oferece e ...


'Eu vim pra me dar pro jogo.
Sem reservas, sem medo
do ridículo.
De olhos vendados,
eu me dou pra vocês!'

*Todas as palavras destacadas em itálico são definições retiradas do dicionário online de língua portuguesa Priberam

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