quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um pouquinho de tudo.



Um pouco da rua, do beco, da esquina
Da parte que passa e ninguém vê
Um pouco da praça, do chão, da surdina
Das linhas que escrevo e ele não lê
Um pouco do que vejo, escrevo e pinto
Da vista da lua da minha janela
Um pouco do inteiro de tudo o que sinto
Dessa menina boba de fita amarela

(E só pra fechar, um pouquinho da primavera em fim de tarde.)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Asas de borboleta


Agora ela tem certeza. Ela vê. Está claro e óbvio, como, na verdade, sempre fora. A questão não eram os pássaros, nem os vagalumes, nem os leões ou cavalos-marinhos. O problema são suas asas (elas que não conseguem se aquietar por nada, nem ficar tempo demais pousada na mesma rosa branca). Sua alma de borboleta anseia por explorar cada vez mais novos jardins floridos. Por pousar em todas as flores. Por conhecer o desconhecido e buscar o inalcançável. O problema é sua insaciável sede de mudança. Sua incapacidade de ser só uma borboleta, quando poderia ser várias de uma só vez. Porque no fundo, bem no fundinho mesmo, ela acredita na beleza dos amores impossíveis e inconcretizados (mesmo não existindo essa palavra). Ela gosta da magia da primeira troca de olhares, a energia dos primeiros sorrisos, a inocência dos primeiros beijos. Prefere mesmo viver de sonhos, do que vê-los todos a desmoronar.

Talvez o amigo do amigo do seu novo amigo tenha razão. Talvez o melhor seja se apaixonar a cada semana. Se apaixonar pelos detalhes, pelo brilho que ninguém vê. Pelo néctar de cada flor. Pela asa de cada borboleta. E viver essa paixão sozinha, intensamente, sem correr o risco que ela dure mais ou menos do que precisa durar, que ela se desgaste. Pra que ela comece e termine sem perder a cor.



Dizem por aí que elas, as borboletas, só vivem 24 horas...

sábado, 24 de outubro de 2009

IP-IP-URRA's

('os pobres amigos músicos' - pra ninguém se sentir rejeitado. rs)


O cansaço e exaustão revigoram a alma, recobrem as forças, liberam um último fio de energia - forte, indestrutível, presente. Um desabafo condensado e altivo, canalizado à um último suspiro: a arte. Arte de esconder a verdade, de poder ser o que não é, ou o que é, mas não acredita ser, de ser feliz e se entregar por um instante, se doar, se ridicularizar, se permitir SER, simplesmente... Uma última gota de suor. Um último 'IP-IP-URRA' antes de começar o espetáculo.

Essa semana apresentamos 3 vezes a 'Mariazinha', espetáculo criado de última hora para a inauguração do livro 'Histórias da Roça', organizado pela minha professora Dani, o livro reúne histórias e causos contados pelos próprios moradores da roça, pelo povo. Com essa experiência vieram muitas coisas realmente boas pra mim. (Resolvi ser audaciosa). A estréia foi no sábado passado (17/10), onde tivemos como palco uma Escola na Roça. A segunda apresentação foi na quinta (22/10) na UFU, frente ao nosso bloco, dentro da programação da Semana do Mestrado. E por fim, hoje, ou melhor, ontem (24/10), apresentamos na Escola Viva, para alunos (de 1 a 7 anos), pais e professores.

É interessante reparar na reação de cada platéia, como isso alterou na hora da apresentação, pelo menos o meu resultado, meu movimento interno, minha ação interior, como diria o bom e velho morto Stanislavski. A simplicidade do primeiro público, o olhar crítico do segundo, e os sorrisos do terceiro. Cada qual com suas vantagens e desvantagens. Com seus prós e contras.

Mas o que vale mesmo, é a força e a coragem, a magia do Teatro de Rua, o 'téti a téti', olho no olho. O jogo com cada platéia. A platéia com cada jogo. O brilho dos olhos. A cumplicidade conquistada. Os erros disfarçados. É o: 'foi o dia mais feliz da minha vida!'. O aprendizado. A vontade de gritar pro mundo.. que o teatro veio do povo, e para o povo. E só.

Como disse um velho amigo, quando me apaixonei pelo teatro:

'VIVA O TEATRO E SEUS ENCONTROS ( ! )'


Ps.: Fotos da apresentação na roça.

domingo, 18 de outubro de 2009

Histórias da vida


Dessa semana eu tiro o cansaço, a exaustão, o sono mal dormido, a sensação de impotência e de descaso. Eu tiro a dor de não ter dado certo, eu tiro o 'monstro'. Eu tiro as lágrimas, o clima tenso, a cabeça baixa para saber ouvir - sem gritar de volta o que pensava. Tiro a insegurança, o medo da perda; tiro uma vida que poderia ter sido - mas não foi. Tiro meus filhos. Mas também tiro o sorriso das crianças, a coragem de ter sido sincera, eu tiro o alívio do desabafo, a alegria de um trabalho começado e a maravilhosa sensação de dever cumprido, eu tiro o peso que estava na consciência, e tiro o brilho dos olhos dos humildes. Tiro a energia e os aplausos da platéia. Eu tiro o recomeço - o passado agora. O que antes era e nunca deixou de ser. Eu tiro a cara, tiro a alma, mostro a cara, e me dôo pra vocês - e pro Teatro!

Essa semana eu renasço - como a fênix - das cinzas.
Eu ressuscito os cavalos-marinhos.