quinta-feira, 30 de junho de 2011

amor moderno.

Horas e horas na janela
debruçada
e trançada
esperando ele passar
Passa João
Passa Margarida
e do amor não passa nada
nada do amor passar.

Fica ela bem quietinha
vem o sono
puxa uma cantiga
e na janela põe-se a cantar
Passa Carlos
Passa Juliana
e do amor não passa nada
nada do amor passar.

Troca de posição, vira a perna
gira o pescoço
cobre a canela
que o sol já vai se pôr
Passa amigo
Passa parentada
e do amor não passa nada
nadica dele na janela do computador.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

Protocolo-Mor (Jogos Teatrais)





E a cabeça é aquele moinho
que vai triturando tudo
que cai dentro
e vão caindo, jogando,
conceitos, chaves, impulsos
emoções, dados,
cartas de tarô.
Vão caindo, não aplicando.
À idéia de aplicar
me vem a imagem daqueles
enfermeiros brucutus
com uma injeção gigante
e um pirulito depois
pra tentar te consolar.
Um mísero pirulito
que ainda faz mal à saúde.
É.
Não gosto de aplicações.
De volta ao moinho,
um rebuliço, tornado de idéias
e sensações, e memórias,
de ventos e porquinhos da índia,
dos amores perdidos
no espaço,
levados pelo vento.
E das sementes de amoras plantadas
em vasinho de barro,
regadas diariamente.
É.
Eu gosto do milagre das sementes.
O desafio da entrega
é pra mim o mesmo do amor.
Da renúncia do orgulho e vaidade,
do estado de risco,
em que você se dá inteiramente
pro outro.
Em que você não pensa no ridículo,
aliás, você não pensa. Embora saiba onde está.
Você ama.
Oferece.
Entrega.
A lição do palhaço,
que mesmo sem saber
estende as mãos e diz:
é isso o que eu tenho
pra oferecer ao mundo.
Mundo,
você pode me amar assim?




segunda-feira, 13 de junho de 2011

um recorte de Alma Funda.


Em Alma Funda há tanta chuva guardada pra jorrar.
Tanta que poderia encher o mundo, o universo.. o solar.
O que foi semente, hoje é folhinha,
pequena assim
tal qual um grão,
a gente planta achando que é rosa
e quando vê só vem botão.

Viva a água de cada dia.
Viva a água.
Viva João.

Em Alma Funda há tanta faísca, tanto carvão pra queimar.
Tanto que poderia ser mil vezes sol, vulcão ativo, potência lunar.
O que foi ferro, hoje é armadura,
firme assim
tal qual diamante,
a gente olha achando que é chapéu
e quando vê é elefante.

Viva o fogo de cada dia.
Viva o fogo.
Viva Rocinante.

Em Alma Funda há tanta água, tanto fogo, terra e céu.
Que as coisas todas se confundem se tornando incomparáveis, favo com abelha e mel.
O que foi - foi, o que hoje - é,
simples/complicado assim
tal qual coração de mulher,
a gente olha achando que é lírio
e quando vê é bem/mal-me-quer.

Viva o dia de cada dia.
Viva o dia.
Viva José.


Viva os pés descalços.

sábado, 4 de junho de 2011

c'est la vie!

O rio continua seu curso. Calmaria pós-tempestade. Ela o segue. Com uma quase felicidade serena. Ansiedade controlada. Aprendendo a descansar no leito das águas. Ela o busca. Ela o espera. Respira. Inspira. Força e fé. Tudo lhe parece um filme, assistido pela milhonésima vez. Um passarinho verde lhe susurra ao ouvido 'agora é diferente'. Mas isso lhe soa igual. Ela ora. Ora no céu. Ora no chão. Eles voam até o mais profundo oceano. E mergulham céu adentro. Ela chora baixinho, dizendo... Cuidem de mim. De nós. De todos. Cuidem dos anjos pra que digam amém.