quinta-feira, 23 de abril de 2009

Canção de Papelão

(Quem sabe, entende!)
.


"Por viver muitos anos
dentro do mato
Moda ave
O menino pegou
um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava
as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
Podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar as pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha,
era só abrir a palavra abelha
e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua."




Poema: "Canção do Ver" de Manoel Barros
Foto: "Pássaro de Papelão" de Alfredo Volpi

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